O presidente da Indra vê “uma grande oportunidade” no plano de rearmamento europeu
Temos que chegar a um acordo rapidamente sobre como vamos fazer com que a defesa da Europa seja única", instou o presidente da Indra, Ángel Escribano, durante a sua intervenção no Fórum La Toja

Turno para o presidente da Indra no Fórum da Toxa-Vínculo Atlántico. Ángel Escribano alertou este sábado sobre a necessidade de reforçar a consciência social sobre investir em defesa na Europa para enfrentar as ameaças vindas em forma de guerra híbrida, drones, desinformação e tecnologias de interferência de sinal capazes de desarmar os sistemas de navegação de aeronaves.
Escribano participou este sábado num painel com Ben Hodges, ex-comandante das forças dos Estados Unidos na Europa, bem como com Beatriz Méndez Vigo, secretária-geral do CNI entre 2013 e 2017. Durante a sua intervenção, sublinhou que, embora a sociedade comece a ter uma maior percepção da segurança, essa mudança está a acontecer “a passos forçados” devido aos acontecimentos recentes, como a entrada de aeronaves russas no flanco oriental da OTAN.
Sobre este ponto, o presidente da Indra reivindicou que a indústria e as autoridades têm feito “grandes esforços” para sensibilizar os cidadãos sobre a importância da defesa. Perguntado se os rivais estão à frente da Europa no uso de novas tecnologias, ele explicou que “não estão à frente, mas sim mais rápidos”. Especificamente, ele esclareceu que esses adversários são capazes de desenvolver e implementar novas soluções com mais agilidade, já que “ignoram quase todos os procedimentos normais de aquisição ou os procedimentos mais padrão para colocá-los em uso”.
Nesse sentido, Escribano destacou o uso de tecnologias de baixo custo como os drones ou técnicas de interferência de sinal, o que permite gerar um alto impacto com poucos recursos: “É a grande mudança que está sendo observada nesta nova situação bélica”, enfatizou. Além disso, o presidente da Indra enfatizou a importância de realizar os investimentos necessários para desenvolver novas capacidades; tudo sob a premissa de que não se trata de uma despesa, mas de um investimento em nossa segurança que, em paralelo, protege as economias.
É por isso que destacou a necessidade de que a indústria do setor de defesa esteja “preparada e conscientizada” para aproveitar essa mudança de paradigma, já traduzida em iniciativas comunitárias como os planos Safe e Rearme.
Mais coesão dos governos europeus
Com isso, advertiu que o principal desafio é conseguir uma maior coordenação entre os Estados membros da União Europeia (UE), já que a defesa é uma competência que não foi integrada como outras matérias: “É necessário concordar rapidamente sobre como vamos fazer com que a defesa da Europa seja única”, instou ao lembrar que atualmente existem “27 interesses diferentes” em face de um único sistema que países como os Estados Unidos possuem.
De fato, indicou que gostou de ouvir previamente que se avance nesses planos mesmo que não exista uma maioria total entre os Estados membros: “Se concordarem três, então três. O importante é tomar a iniciativa […] Não nos perdoaremos se não nos prepararmos para o que pode vir”, articulou.
Quanto ao papel da China, Escribano apontou que “não é uma potência na fabricação e no desenvolvimento de armamento” e que os países da OTAN mal têm material bélico chinês em seus arsenais. No entanto, reconheceu que há uma dependência do gigante asiático em termos de componentes e matérias-primas, e que, mais à frente, “será um grande competidor no futuro” além de sua posição atual como fornecedor necessário.
Num contexto mais amplo, Escribano defendeu a competitividade da indústria europeia: “Não temos nada a invejar a ninguém […] A indústria de defesa europeia possui todas as capacidades, toda a tecnologia e estamos preparados”, defendeu.
“Não considero que nossos engenheiros estejam 20 anos atrás”
Neste sentido, rejeitou a ideia de que Estados Unidos estejam duas décadas à frente de Europa nesse âmbito: “Não posso concordar. Não considero que nossos engenheiros estejam 20 anos atrás de qualquer jovem em qualquer outro país”, vinculou.
Finalmente, compartilhou com seus colegas de mesa que o momento atual representa “uma grande oportunidade” para a Europa, na medida em que ele focou na possibilidade de reindustrializar o setor de defesa após anos de menor investimento e aproveitar um cenário em que “parece que não há problema com o dinheiro” para impulsionar capacidades estratégicas.
“Temos agora um dos melhores momentos, industrialmente falando e, principalmente, de conhecimento. Essa oportunidade deve ser aproveitada e puxar por uma indústria que precisa e que está totalmente preparada”, concluiu.