Os transportadores lutam pela AP-9 e recorrem ao Supremo contra a negativa do Governo em rever as prorrogações
Apetamcor reclama a nulidade das prorrogações concedidas pelos Governos de González e Aznar ao entender que supuseram modificações substanciais da concessão
Percorrido da AP-9 ao seu paso pola Ponte de Rande
A associação galega que representa a PMEs e autônomos do transporte de mercadorias por estrada, Apetamcor, anunciou este sábado que recorrerá diante do Tribunal Supremo (TS) a decisão do Conselho de Ministros do passado 2 de dezembro de 2025 de não admitir a sua solicitação para revisar de ofício as prorrogações da Autopista do Atlântico, a AP-9.
A decisão foi aprovada na junta diretiva da Apetamcor este sábado, jornada na qual compareceram perante a mídia o presidente da entidade, Javier Adolfo González; a diretora geral, Natalia Blanco, assim como a secretária geral, Myriam Otero, junto ao advogado Xoán Pérez Lema, responsável pela representação legal da associação neste litígio.
Apetamcor reclama a nulidade das prorrogações concedidas pelos governos de Felipe González em 1994 e de José María Aznar em 2000 ao considerar que supuseram uma modificação substancial da concessão da autopista.
Nulidade das prorrogações
E o facto é que, conforme assinalou Myriam Otero, esta infraestrutura supõe “um eixo estratégico” para o setor do transporte e implica uns “custos muito elevados”, que fazem que os transportistas optem pelas vias nacionais, o que implica “muito mais risco para a segurança viária”.
Nesta linha, Natalia Blanco, que sustentou que há “jurisprudência que avala a decisão tomada pela junta diretiva” e incidiu nas “importantes consequências económicas” que tiveram para o setor estas duas prorrogações da concessão. Além disso, lembrou aos transportistas a necessidade de que guardem toda a documentação relativa ao pagamento de portagens.
Processo
Na sua intervenção, Pérez Lema lembrou que a associação apresentou no passado 5 de agosto sua solicitação de revisão de ofício destas prorrogações, que foi inadmitida a trâmite, uma decisão que este segunda-feira recorrerão mediante a apresentação de um recurso contencioso administrativo no Tribunal Supremo.
O advogado Xoán Pérez Lema sustentou que as prorrogações supuseram uma modificação substancial da concessão da autopista que supôs uma ruptura da igualdade de trato proibida pelo Tribunal de Justiça da UE (TJUE).
“Este tipo de modificações substanciais, quando se lhes dá muito mais tempo sem lançar um recurso público, um processo de concorrência competitiva, supõe uma violação da igualdade de trato e vai contra os tratados constitutivos da União Europeia“, assinalou.
Além disso, lembrou que o tratado de constituição da União Europeia é aplicável no Estado espanhol desde 1 de janeiro de 1986, por isso inclui “perfeitamente o tempo das duas prorrogações”, que não estavam nem previstas nem na lei de autopistas de 1972, que regia quando se adjudicou a AP-9 em 1973, nem estava prevista em “nenhum tipo de regulamento nem na própria carta da concessão”.
Além disso, incidiu em que também não se dava outra causa de modificação substancial como seria um “acontecimento imprevisível que obrigasse a decisões do setor público inexcusáveis”.
Parecer da Comissão Europeia
Pérez Lema também se referiu ao parecer da Comissão Europeia do passado mês de julho, que, segundo lembrou, apremiava o Governo do Estado a resolver esta situação ou enfrentar-se a um recurso por incumprimento ante a TJUE, que é “o que previsivelmente fará nos próximos meses”.
Assim sendo, incidiu em que “não se pode esperar” a essa resolução uma vez que, na sua opinião, é uma questão que já deve apreciar o próprio Conselho de Ministros e declarar a nulidade mediante o processo de revisão das prorrogações, como Apetamcor pediu no passado 5 de agosto e o Governo recusou este mês de dezembro.
Relatório de Carlos Aymerich
No recurso, além disso, integrarão um relatório elaborado pelo professor da Universidade da Corunha (UDC) Carlos Aymerich no qual se assinala que a resolução do Conselho de Ministros foi adotada prescindindo do procedimento legalmente estabelecido.
Além deste procedimento de reclamação da nulidade das prorrogações, Apetamcor recorda que também está lutando pela devolução dos pedágios cobrados indevidamente, especialmente no trecho de Rande, durante as obras de ampliação desta infraestrutura.