Stellantis volta a dobrar as provisões pelo cartel de carros e reserva 14 milhões para demandas.
O grupo indica que existe um "alto nível de incerteza" em relação ao número de reclamações extrajudiciais recebidas e sobre quantas se converterão em processos.

Stellantis aumentou novamente as provisões para enfrentar a onda de processos dos afetados pelo chamado cártel de carros. O fabricante, que lidera a produção na Espanha a partir de suas fábricas em Vigo, Zaragoza e Madrid, reservou 13,7 milhões para os processos judiciais que enfrenta após as sanções da Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência e a subsequente rejeição das alegações perante a Audiência Nacional e o Tribunal Supremo. Este montante, provisionado no final de 2024, é o dobro do que um ano antes, quando Stellantis tinha reservado 6,9 milhões para atender as reclamações de seus clientes.
A empresa, que monta 41% dos carros fabricados na Espanha, já foi obrigada a pagar 53,3 milhões de multa em 2023 por sua participação no cartel. Essa sanção incluiu as penalidades para Citröen e Peugeot, bem como outra de 22,8 milhões imposta a General Motors, cujo negócio na Espanha foi absorvido pelo grupo automobilístico, assumindo a antiga fábrica de Opel em Figueruelas.
A confirmação pelo Supremo da concertação de preços entre 21 empresas fabricantes e distribuidoras de veículos com efeitos tanto na comercialização como na prestação de serviços pós-venda, resultou em uma cascata de processos por parte dos clientes afetados, sob a premissa de que as operações do cartel fizeram com que pagassem excessivamente pela aquisição de seus carros. Estes processos são os que obrigam a Stellantis a provisionar cada vez mais para cobrir as reclamações.
Incertezas em Stellantis
Foram sancionadas no cartel também Nissan, Peugeot, Toyota, Honda, Ford, Fiat, BMW, Mercedes ou Hyundai, entre outras. A Concorrência estimou em 2015, ano em que emitiu a resolução sancionadora, que estas empresas alcançavam uma quota conjunta de 91% do mercado de distribuição de veículos na Espanha, e que as práticas colusórias ocorreram de forma contínua entre 2006 e 2013. Por esse motivo, a maioria dos clientes que adquiriram um veículo nesses oito anos tinha a possibilidade de reivindicar indenizações.
Stellantis expressa em suas contas anuais que está recebendo “numerosas reclamações judiciais e extrajudiciais de clientes supostamente afetados, reclamando indenizações por danos e prejuízos na compra de veículos desde 2006 até 2013”. Em relação aos litígios reserva essa provisão de 13,7 milhões, com uma alocação de quase sete milhões durante o exercício passado. No entanto, em relação às reclamações extrajudiciais, indica que “existe um alto nível de incerteza” que não permite fazer “uma estimativa confiável do risco futuro”, já que “desconhece quantas reclamações recebidas se converterão em processos judiciais e, sobretudo, o resultado final previsível das futuras sentenças”.
A indenização
As plataformas de afetados e associações de consumidores tomam como referência para a indenização que os denunciantes podem receber 10% do valor de compra do veículo, já que se entende que um mercado afetado por um cartel provoca um aumento artificial dos preços, que seriam mais baixos em uma situação plena de concorrência. No entanto, as sentenças mostram variabilidade quanto às indenizações estabelecidas, que se elevam ligeiramente pelos juros de mora.
As provisões alocadas por Stellantis até agora, esses 13,7 milhões, não deveriam representar um grande problema para um grupo que faturou somente com sua filial espanhola 15.500 milhões e obteve 719 milhões de lucro. Apesar disso, a empresa levou aos litígios um relatório realizado por KPMG para tentar demonstrar que a operação do cartel não alterou os preços de venda ou que, pelo menos, esse aumento não está comprovado.
O cartel de carros
Em julho de 2015, a CNMC tornou pública uma sanção de 171 milhões a 21 empresas do setor automobilístico, com uma quota de mercado conjunta de mais de 90%, e a duas consultorias por “a troca sistemática de informações confidenciais comercialmente sensíveis, tanto atuais quanto futuras e altamente detalhadas”. Essas trocas afetavam a “quase totalidade das atividades realizadas pelas empresas
sancionadas por meio de sua rede de distribuição e pós-venda: venda de veículos novos, usados, prestação de serviços de oficina, reparação, manutenção e venda de peças de reposição oficiais”, segundo a entidade. Além disso, o superregulador considerou comprovado que se tratava de “uma infração única e contínua” que, dependendo da empresa, se estendia de fevereiro de 2006 até agosto de 2013.
SEAT (Volkswagen Audi España e Porsche Ibérica) se acolheu ao programa de clemência, ou seja, colaborou com a investigação para evitar a multa. Entre as marcas que faziam parte do cartel estavam Audi, BMW, Citröen, Chevrolet, Fiat, Ford, Honda, Nissan, Opel, Peugeot, Jeep, Kia, Lancia, Chrysler, Alfa Romeo, Toyota, Volkswagen, Volvo, Hyundai, Mitsubishi ou Skoda.