Um mês da crise de Cardama no Uruguai: estaleiro e Xunta, expectantes ante a ampliação da denúncia
O Governo galego assegura que mantém vias de comunicação com o Executivo uruguaio, que iniciou um conflito aberto com a companhia galega ao anunciar há um mês a sua intenção de romper o contrato para a compra de dois patrulheiros por "indícios de fraude"
Vista exterior do estaleiro viguês Francisco Cardama SA / Europa Press
Já passou um mês desde que o Governo uruguaio anunciou sua intenção de romper o contrato para a compra de duas patrulheiras ao estaleiro viguês Cardama por 82 milhões de euros, ao encontrar “fortes indícios de fraude ou estelionato ao Estado“.
Um mês em que muitas informações surgiram a respeito, esperando agora tanto a empresa quanto a Xunta da Galiza novos passos desta denúncia interposta pelo Governo do Uruguai, que classifica como “armadilha” o formato do contrato.
Desde o primeiro momento, a companhia confiou em reconduzir a situação. Agora está à espera de que o procedimento iniciado pelo Executivo uruguaio avance, sem querer dar declarações à imprensa a respeito.
Comunicação institucional
Por sua parte, fontes da Xunta consultadas por Europa Press reivindicaram que o Governo galego mantém um canal de comunicação com o Executivo do Uruguai para conhecer em primeira mão qualquer novidade sobre esta questão.
“A reputação e a fiabilidade do setor naval galego está mais que credenciada por décadas de trabalho e liderança industrial na Espanha”, afirmaram as mesmas fontes.
Precisamente, a conselheira de Economia e Indústria, María Jesús Lorenzana, insistiu na necessidade de esclarecer o ocorrido, valorizando o naval galego. “Esperamos que com a participação de todos seja possível que Cardama possa regularizar esse contrato e possa finalizar o objeto contratual, chegando a bom porto”, sublinhou.
Ampliação da denúncia
Esta semana ficou conhecido que o Uruguai estaria planejando uma ampliação da denúncia. A reclamação inicial estava ligada a que Cardama deveria apresentar uma garantia de “fiel cumprimento” da licitação que equivalia a 5% do contrato total da obra (cerca de 4,1 milhões de euros). Ou seja, que se Cardama não cumprisse com o contrato, o Governo do Uruguai poderia executar a garantia e receber esse valor.
“Isso não foi cumprido e foram solicitadas prorrogações”, detalhou o Executivo sul-americano, adicionando que “os 45 dias se transformaram em 11 meses, o que é relevante, pois o primeiro barco deveria estar construído em 18 meses.”
Agora, teriam encontrado outras supostas irregularidades, como uma suposta “assinatura falsa” notarial junto ao documento de garantia fiel apresentado.
“A situação é cada vez mais obscura”
O próprio presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, lamentou que o formato do contrato é uma “armadilha”. “Se as coisas estão mal feitas, vamos pará-las. O Estado do Uruguai tem que se defender”, afirmou.
Colocando o foco na necessidade de “transparência”, também apontou diretamente para a empresa que, supostamente, “não se portou bem” e “agiu de maneira incorreta”. “E isso é o que tem que ser corrigido para que possamos ter as patrulheiras em funcionamento”, adicionou.
O secretário da Presidência do Governo uruguaio, Alejandro Sánchez, também se pronunciou sobre o tema, indicando que a situação está cada vez “mais obscura” ao encontrar novos elementos como a suposta assinatura “falsa”, por isso é importante “esclarecer” o ocorrido.
A ministra da Defesa do Uruguai, Sandra Lazo, também reivindicou a importância de contar com as patrulheiras “da melhor maneira possível”. “Pagamos por um serviço, temos o direito de opinar e que se tenha em conta”, frisou, lembrando que representantes uruguaios viajaram a Vigo nos últimos dias para verificar o avanço da construção das patrulheiras.