Uruguai acusa Cardama de “pouco diálogo” e vaticina mais incumprimentos de prazos com as patrulheiras
A ministra da Defesa, Sandra Lazo, volta à carga contra Cardama e assegura que reduziu ao "mínimo" os trabalhos para a construção das patrulheiras sobre as quais Uruguai aprecia indícios de "fraude"
Vista exterior do estaleiro viguês Francisco Cardama SA / Europa Press
O Governo uruguaio eleva o tom contra Cardama. A ministra da Defesa, Sandra Lazo, tem criticado a empresa de Vigo pelo, segundo ela, “pouco diálogo” que está oferecendo na hora de reconduzir um contrato para a construção de duas patrulheiras que atualmente está em xeque.
Segundo Lazo, a situação é de “stand by” depois que o Executivo liderado por Yamandú Orsi anunciou sua intenção de entrar com uma ação judicial contra Cardama por “fortes indícios de fraude ou estelionato”. De acordo com o Governo uruguaio, a garantia de fiel cumprimento que respaldava parte do contrato foi emitida por EuroCommerce, uma empresa domiciliada no Reino Unido e impulsionada pelo russo Vladimir Suzdalev, mas que encerrou as operações no último mês de outubro.
Com o documento redigido em inglês e dúvidas sobre a solvência financeira da empresa no momento da assinatura, o Governo uruguaio liderou uma dupla ofensiva. A esta demanda soma-se seu pedido à Procuradoria Geral para que investigue tanto a possível fraude quanto a execução da garantia por descumprimento.
Com este cenário como pano de fundo, Sandra Lazo acusa agora a Cardama de reduzir ao “mínimo” os trabalhos na construção destas duas patrulheiras avaliadas em cerca de 82 milhões de euros. “A situação específica que nos é transmitida pelos representantes é que há menos trabalhadores e que há um trabalho mínimo”, destacou a ministra.
Baile de cifras
A representante do Governo uruguaio já tinha conflitado anteriormente com Cardama quanto aos avanços na construção do primeiro destes dois navios encomendados no final de 2023. Mario Cardama, presidente da empresa de Vigo, defendeu há dois meses que já estava construído 60% do casco desse navio de patrulha oceânica (OPV).
Contudo, Sandra Lazo censurou que “não está nem a 60% construído” e agora alerta para uma redução no ritmo dos trabalhos. “Os prazos certamente não serão cumpridos porque já nos foi anunciado em uma nota que não serão cumpridos”, revelou.
A volta dos pagamentos
Cardama já recebeu até agora cerca de 26 milhões de euros após desbloquear diferentes marcos estabelecidos em seu contrato com o Uruguai. O setor naval define uma série de eventos (corte de chapa, colocação de quilha, lançamento ao mar, testes de mar etc.) como etapas prévias para liberar novas parcelas dos pagamentos previstos no contrato.
Neste sentido, o presidente do Banco da República Oriental do Uruguai, Álvaro García, confirmou que o próximo pagamento a Cardama, emitido sob a forma de carta de crédito, é “irrevogável e deve ser executado”. Como explicou, a única possibilidade de impedir o pagamento da próxima parcela ocorre se “não forem apresentados os documentos para cumprir com os marcos que autorizam o banco a pagar”.
Esta posição contrasta com a da própria Lazo, que, na semana passada, falou em declarações à imprensa uruguaia sobre a existência de um “dispositivo complexo que faz com que não sejamos nós que dizemos sim ou não aos pagamentos”. “O que estamos tentando é revisar um contrato que seja mais favorável ao Estado uruguaio, e nesse contexto sim poder ter o controle de dizer: Bom, até que não se apresente o que nós precisamos, os pagamentos não são liberados. Hoje não podemos fazer isso”, defendeu a ministra da Defesa.