Fernando Romero contra-ataca e denuncia a CNMV após multas milionárias por manipular ações da EiDF
A defesa do fundador da companhia de renováveis indica também que já tinha recorrido à última sanção de um milhão de euros que lhe impôs o regulador bursátil e foi anunciada no BOE esta semana

Fernando Romero, o fundador da EiDF, intensifica o seu confronto com a Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV). Navas & Cusí, o escritório de advocacia que o representa, informou nesta terça-feira que recorreu da última sanção anunciada esta semana pelo regulador do mercado, de um milhão de euros, mas além disso, denunciou o supervisor das empresas listadas pelos “graves danos” que, segundo seu parecer, foram causados pela exclusão da cotação em bolsa da empresa da qual foi presidente.
Na segunda-feira, a CNMV anunciou a imposição de uma nova multa a Romero de um milhão de euros pela realização de práticas constitutivas de manipulação de mercado, fatos que, segundo o supervisor do mercado, ocorreram no primeiro trimestre de 2022.
Esta sanção adiciona-se à que já foi imposta no passado agosto, neste caso de dois milhões de euros e também por manipulação de mercado, mas neste caso, por uma operação que teria ocorrido no quarto trimestre de 2022.
Recurso judicial
Ambas as multas, em qualquer caso, eram passíveis de revisão judicial pela Sala do Contencioso-administrativo da Audiência Nacional. Em agosto, a representação legal de Romero já havia anunciado o recurso da primeira multa. Agora, o escritório indica que a nova sanção já tinha sido comunicada e também já tinha sido recorrida antes da sua publicação no Boletim Oficial do Estado (BOE) nesta segunda-feira, razão pela qual argumentam que não pode ser entendida como definitiva e não deveria ter sido publicitada.
“Entendemos que a sanção não está de acordo com a lei e por isso recorremos judicialmente. Confiamos que os tribunais resolvam este assunto com todas as garantias processuais, incluíndo a presunção de inocência e que avaliem adequadamente se estas sanções – que são as mais altas da história da CNMV – obedecem ou não a um critério de prudência e proporcionalidade que deve reger a CNMV”, afirma Juan Ignacio Navas, sócio-diretor de Navas & Cusí e advogado de Fernando Romero.
Exclusão de cotação
Mas além deste segundo recurso, que era esperado por ter sido feito anteriormente, a defesa de Fernando Romero informa que optou por denunciar a CNMV pelos “graves danos” causados pela exclusão da cotação da EiDF. Em particular, e após um espetacular crescimento no BME Growth em que estava cotada e onde chegou a valorizar-se mais de 2.000%, em abril de 2023 a CNMV decretou a suspensão da cotação face à impossibilidade de apresentar suas contas anuais em forma e prazo perante a recusa do seu novo auditor (PwC) em assiná-las. As ações da EiDF mantiveram-se estagnadas durante mais de quatro meses em 29,76 euros até que, no dia 28 de agosto desse mesmo ano, voltaram a cotar em meio a uma queda de 70%.
A CNMV decretou o levantamento da suspensão da cotação depois de que a EiDF apresentasse, desta vez sim, suas contas anuais com um relatório de ressalvas por parte de PwC, assim como parte do forensic encarregado a Deloitte para investigar possíveis irregularidades em suas contas.
Expediente de exclusão
Os advogados de Romero argumentam agora que a CNMV não atende às suas reivindicações de informação. “Há mais de um ano solicitamos à CNMV o expediente de exclusão da EiDF para reclamar danos; negaram-nos apelando à confidencialidade; negam a um acionista a justificação de uma decisão que lhe causou um dano importante!”, lamenta Navas, que indica que, após a negativa, recorreram ao Ministério da Economia, que também não respondeu.
“Perante a indefensão do silêncio administrativo, recorremos à justiça contencioso-administrativa; e agora sim, ao juiz terão que fornecer a documentação requerida”, aponta o advogado. E acrescenta: “Esperamos que os tribunais de justiça esclareçam as responsabilidades perante esta defesa e perante uma exclusão que consideramos arbitrária e que causou um enorme dano”.