O Governo esfria as expectativas sobre o resgate da AP-9: “Tem uma enorme complexidade”

O secretário de Estado dos Transportes, José Antonio Santano, qualquer operação de resgate tem "implicações jurídicas e económicas milionárias" e lembra que "os que resgatam não são os governos, mas os cidadãos"

José Antonio Santano, secretário de Estado dos Transportes e Mobilidade Sustentável, destacou esta segunda-feira a complexidade económica e jurídica do resgate das autoestradas AP-9, na Galiza, e a AP-66, que conecta o Principado das Astúrias com Leão.

A Comissão Europeia emitiu este verão um parecer no qual argumentava que não se tinha respeitado a regulamentação comunitária na hora de ampliar a concessão das autoestradas, documento ao qual o ministério liderado por Óscar Puente decidiu apresentar alegações “em defesa do interesse geral”.

“Chegámos ao ministério com uma situação de facto já produzida”, apontou Santano, ao mesmo tempo que expressou sentir-se “incomodado” com o PP, pois é o partido responsável por ter ampliado as concessões.

Nesse sentido, lembrou que teriam terminado de “forma natural” em 2021 e 2023, mas foram prorrogadas. “O natural teria sido que nesse momento essas portagens tivessem terminado”, manifestou, solicitando “humildade” e “pedido de desculpas” aos políticos do PP que agora criticam a portagem.

Complexidade do resgate

O secretário de Estado insistiu que qualquer operação de resgate tem “implicações jurídicas e económicas multimilionárias”. Além disso, enfatizou que “quem resgata não são os governos, são os cidadãos e as cidadãs”, sublinhando que o custo sairia dos bolsos da população.

Após participar num evento nas Astúrias e Cantábria e a perguntas dos jornalistas, Santano foi questionado sobre se seria mais positivo resgatar as portagens ou intensificar o sistema de bonificações, e respondeu comparando a situação com uma hipoteca, colocando a dilema de cancelá-la ou continuar pagando-a.

“É evidente que se somar as quantidades, a hipoteca acaba sendo mais cara. Mas, tem o dinheiro hoje para pagar a hipoteca?”, questionou.

O secretário de Estado explicou que as concessões têm um período vigente por vários anos ainda, com contratos complexos nos quais participaram investidores de diversas origens. “Modificar ou rescindir isso tem uma enorme complexidade”, manifestou.

Destacou que o Governo mantém aberta a sua relação com a Comissão Europeia e fez alegações a respeito. “Continuamos a trabalhar defendendo neste momento o interesse geral”, sublinhou.

Santano pediu prudência e compreensão perante a complexidade do processo. “Temos que ser conscientes de que as coisas são complexas, que são complicadas”, indicou, deixando entrever que o caminho para resolver a situação das autoestradas não terminou.

O representante governamental evitou dar detalhes concretos sobre um possível resgate, centrando-se em explicar as dificuldades económicas e jurídicas do processo. “É muito difícil calibrar o impacto económico”, reconheceu.

Negociações com a Comissão

Finalmente, deixou a porta aberta a futuras negociações com a Comissão Europeia e análises, sem comprometer-se com uma solução imediata. “Este caminho não terminou”, concluiu, mostrando a postura cautelosa do Governo diante desta complexa situação.

A Comissão Europeia, no âmbito de um pacote de procedimentos de infração, decidiu em julho emitir um parecer motivado no qual solicitava a Espanha que respeitasse as normas da UE em matéria de contratação pública, em particular com respeito aos contratos de concessão.

Espanha ampliou a duração das concessões das autoestradas AP-9 e AP-66 (Huerna) a vinte e cinco e vinte e nove anos, respetivamente, e mais tarde vendeu as duas empresas concessionárias sem iniciar procedimentos de licitação prévios nem publicar um anúncio à escala da UE.

A Comissão explicava que, em virtude da Diretiva 93/37/CEE (aplicável naquela altura) e dos princípios de igualdade de tratamento e transparência que subjazem às normas da UE em matéria de contratação pública, estas ampliações constituem modificações substanciais equivalentes à adjudicação de novos contratos de concessão e, portanto, requerem um procedimento de licitação.

A Comissão enviou um parecer motivado a Espanha, e deu-lhe dois meses para responder e adotar as medidas necessárias. O ministério dos Transportes respondeu apresentando alegações, de forma que as portagens seguem vigentes

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