O negócio conjunto de Amancio Ortega e Telefónica marca um gol na rentabilidade comparado com a própria ‘teleco’
A Telxius, filial de infraestruturas participada pela Pontegadea, estreitou a sua margem de EBITDA ao longo do ano, mas ainda assim supera em 15 pontos a do conjunto do grupo, que corta ao meio o dividendo e afunda na bolsa
Amancio Ortega tem observado de longe a maior queda na bolsa da Telefónica em cinco anos. Seu sócio na Telxius caiu 13% no IBEX e perdeu 3.000 milhões de capitalização no dia em que Marc Murtra apresentava o plano futuro da empresa até 2030. A estratégia da teleco não foi bem recebida, que corta o dividendo pela metade sem prometer grandes melhorias na rentabilidade das operações nem uma redução significativa do alavancamento, que se prevê em 2,5 vezes o ebitda em 2028, partindo de 2,6 ao fechar de 2024.
Também não há clareza sobre o crescimento inorgânico, pois nem se busca nem se descarta uma operação corporativa que, se ocorresse, poderia requerer uma ampliação de capital. E a visibilidade sobre o dividendo também é limitada, pois dependerá, depois de 2026, do fluxo de caixa livre, que é mais baixo do que o esperado tanto em 2025 como na previsão de 2026. Os analistas da Bankinter mencionaram a pobre contrapartida pelo corte no dividendo. A Telefónica promete em troca “crescimentos modestos inferiores à inflação ponderada de seus mercados; endividamento estável e superior ao de seus comparáveis; e rentabilidade por dividendo elevada, mas não assegurada”.
Neste contexto se cozinhou a forte queda na bolsa, acompanhada de perdas de 1.080 milhões devido às desvalorizações geradas pelas desinvestimentos na Argentina, Peru, Equador e Uruguai. Ainda assim, sem extraordinários, os lucros ficam em 828 milhões até setembro, 45,9% menos que no mesmo período do ano anterior, enquanto que as receitas, de 26.970 milhões, retrocedem 2,8%. A margem de ebitda, que se situou em 8.938 milhões (3,6% menos), alcança 34,3% no terceiro trimestre e 33,1% no acumulado dos nove meses, similar ao do mesmo período de 2024, com uma queda de 0,1 pontos.
A equipe de Pontegadea, o holding familiar de Amancio Ortega que está sob a liderança de Roberto Cibeira, pode olhar com preocupação e também com algum consolo os números da Telefónica, já que seu negócio conjunto, pelo menos, mantém níveis de rentabilidade mais elevados. A Telxius, filial de infraestruturas de telecomunicações participada pelo fundador da Inditex, terminou setembro com uma margem de ebitda de 48,8%, 15 pontos acima do conjunto do grupo.
Menos rentável, mas mais tráfico
Telxius, agora focada em seus mais de 100.000 quilômetros de cabo submarino após a venda de suas torres de telecomunicações, foi estreitando sua margem ao longo do ano, apesar de ser muito superior à do grupo. Começou o ano, no primeiro trimestre, com 50%, que baixou para 48,9% no primeiro semestre e para 48,8% no fechamento de setembro. A rentabilidade, ainda assim, é bastante estável, considerando que no terceiro trimestre de 2024 a margem de ebitda era de 48,9% (0,1 ponto a mais), enquanto que no primeiro trimestre era de 50,8%, 0,8 pontos a mais que no primeiro trimestre deste ano, marcando aqui uma diferença algo mais significativa.
A margem de ebitda da Telefónica não evoluiu muito melhor. Os 33,1% dos nove primeiros meses do exercício representam um retrocesso de 0,3 pontos em relação ao mesmo período de 2024, e de 0,1 pontos em termos orgânicos. No terceiro trimestre também cai em 0,3 pontos percentuais.