Obrigado, ministro!

O nosso ministro dos transportes não desiste de seu esforço para nos educar; ele aproveita sua sabedoria e utiliza o sarcasmo também com outro objetivo, ativar nossos neurônios descansados de verão e nos preparar para entender que isso de estar de férias supervalorizadas não combina com ele.

Nunca poderemos agradecer o suficiente aos nossos políticos pelo seu esforço incansável para facilitar nossa vida, inclusive, sua comprovada capacidade para nos educar e formar; especialmente, com o exemplo. Mais uma vez, o ministro Puente, gênio e figura, sobrenome e função em harmonia, criando pontes com a oposição. Não, ele não vai se desculpar por suas declarações, porque seu estilo narrativo está repleto de ironia e sarcasmo, modelos de relação mais adequados para se expressar diante de patifes com poucas sinapses neurais, mentes devastadas pelo incêndio provocado após uma ideologia destrutiva. Arranja-te se és tolo e não entendes a linguagem elaborada com inteligente e mordaz sorna.

Ironia versus Sarcasmo

Vamos, hoje mais do que nunca, a uma “fonte limpa”. Diz o nosso dicionário acadêmico que, em uma primeira acepção, a ironia é uma zombaria sutil e dissimulada; em um segundo matiz, porque nos matizes está a verdade, que isso implica, para expressá-la, um tom zombeteiro. Bem, ainda restar um pouco de respeito pelo pensamento alheio. Um passo mais adiante, esse respeito pelo pensamento alheio encontra-se com o sarcasmo, que segundo a Real Academia supõe uma zombaria cruel, ironia mordaz e cruel com a qual se ofende ou maltrata alguém ou algo. Menos mal que uma segunda definição, abrigada na retórica, a tinge de ser usada com fins expressivos. Ou seja, resumindo, um cuspe no cérebro.

Mas o nosso ministro dos transportes não desiste de sua empreitada educativa. Recorre a sapiência e usa o sarcasmo também com outro fim, ativar nossos neurônios descansados do verão e nos preparar para poder entender que isso de estar de férias supervalorizadas não vai com ele.

O Sarcasmo precisa de rua

Devemos agradecer ao ministro Puente seus desvelos formativos, principalmente se estes são no verão. Cientistas argentinos (pois sim, parece que na Argentina ainda há quem pense, e, inclusive publica), seis para ser exatos, acabam de mencionar na revista Brain Topography que é necessário revisar os correlatos neurais do sarcasmo com o uso de ressonância magnética funcional adaptada ao idioma espanhol. Bem, mais precisamente ao espanhol argentino, que não deixa de ser um espanhol aprimorado, se nos permite a ironia. Ou seria sarcasmo?

O estudo determina que “a compreensão do sarcasmo implica uma extensa rede fronto-temporal-parietal, com uma ativação proeminente de áreas relacionadas com a Teoria da Mente“. Em palavras compreensíveis para mentes carentes do divino dom do sarcasmo, este, o sarcasmo é para os espertos. Não especifica o estudo se esperto é quem emite o sarcasmo ou quem o entende; ou não. Tendo em vista a dolicocefalia posicional detectável na testa do ministro, está claro que é mais do que o excreta. E depois, ao ouvi-lo, vais tu e o compões; ou não. Dizem os doutores argentinos que a próxima fase do estudo será a confirmação, ou não, de que a incompreensão sarcástica poderia ser um indicador confiável no diagnóstico de patologias neurológicas e problemas de saúde mental, por exemplo, a esquizofrenia, devido à dificuldade que esses pacientes têm para identificar situações sarcásticas. Pois, che, vai ser que não.

Empatia sarcástica

Que não, que tudo tem que ser muito mais simples, sem complicada explicação científica. Graças ao ministro, poderemos identificar pelas reações observadas, se os que não entendem seu peculiar estilo são progressistas ou não, se estão próximos da ultradireita ou não, ou se foram amigos de Marcial Dorado ou não. Além disso, graças ao domínio da paralinguagem, as mensagens cujo sentido é dado pelo tom e inflexões da voz, os comentários sarcásticos servirão como elemento de validade para identificar imediatamente ao esperto e indicar ao tolo. O contexto, o importante para entender o sarcasmo é saber se mover na complexidade do contexto. E para que isso funcione, o sarcasmo, entende-se, deve haver empatia, vibrar na mesma onda, além de, como não, um pouco de malícia e rua. E de tudo isso, o ministro, tem de sobra.

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