O ex-comissário Villarejo, ao banco dos réus por espionagem na crise da Martinsa-Fadesa

A Procuradoria Anticorrupção pede para o comissário aposentado mais de 23 anos de prisão por suborno e revelação de segredos ao investigar o concurso de credores da Martinsa-Fadesa

O Audiência Nacional julga a partir desta segunda-feira o comissário aposentado José Manuel Villarejo e seu sócio Rafael Redondo pelo chamado Projeto Saving, um trabalho no qual teriam investigado possíveis irregularidades no processo de falência da construtora Martinsa-Fadesa quando o presidente era Fernando Martín. Nesta peça do caso Villarejo, a Procuradoria Anticorrupção pede em sua escrita de acusação 23 anos e 6 meses de prisão para o comissário aposentado, bem como 18 anos e 9 meses para Redondo.

Anticorrupção considera que os fatos investigados constituem os supostos delitos de suborno passivo próprio, descoberta e revelação de segredos privados com divulgação a terceiros cometidos por funcionário público, descoberta e revelação de segredos privados com divulgação a terceiros e falsidade em documento mercantil.

Responsabilidade civil

E pede, além das penas de prisão para ambos, que Villarejo e Redondo indenizem com 5.000 euros cada um dos espionados em conceito de responsabilidade civil. E indica que dessas quantias é responsável civil subsidiário a Administração Geral do Estado. Além disso, entende que procede o confisco dos meio milhão de euros que José Moya, já falecido, pagou ao Grupo CENYT pelo trabalho.

Anticorrupção descreve que foi em julho de 2011 quando Moya contatou através de terceiros com o comissário “quando estava em serviço ativo como comissário do Corpo Nacional de Polícia” para que o ajudasse a resolver o conflito que, por conta de um investimento que realizara, mantinha com a companhia Martinsa-Fadesa e com seu presidente.

Conforme detalha, o problema partia da compra por parte de Moya de ações da Martinsa-Fadesa por um montante superior a 100 milhões de euros em 2007, o que representava 5% da empresa.

Investimento fracassado

Essa aquisição, acrescenta, era acompanhada de um contrato de opção de venda que permitia a Moya recuperar, ao menos parcialmente, o investimento realizado na medida em que se reservava a opção de vender as ações que tinha adquirido e que, caso essa opção fosse exercida, deveriam ser compradas pela companhia Martinsa-Fadesa e por seu presidente Fernando Martín.

No entanto, embora exercida, “a opção de venda não pôde ser efetivada ao se declarar o processo de falência de Martinsa-Fadesa em julho de 2008, sem que, além disso, pelo administrador judicial se tivesse conhecimento desse contrato de opção de venda, iniciando então o conflito que enfrentou o próprio Moya Sanabria com a companhia e com seu presidente”, lembra a escrita.

Foi então, segundo o fiscal, quando o acionista contratou Villarejo para encarregar-se de investigar “possíveis irregularidades que suspeitava haviam ocorrido no procedimento de falência de Martinsa-Fadesa” e cujo conhecimento poderia utilizar numa eventual negociação para recuperar o investimento.

A operação

Detalha que Villarejo assumiu o trabalho “através do complexo entramado societário do qual era titular real denominado Grupo CENYT” e especifica que foi um dos vários trabalhos investigados, portanto, não se trata de um “fato isolado”. “A organização criminosa investigada estava integrada por funcionários do Grupo CENYT e administradores e apoderados de suas diversas empresas, entre os quais participou materialmente na execução do projeto Saving o acusado Rafael Redondo Rodríguez, como advogado e assessor jurídico da empresa”, explica.

A Procuradoria explica que esse projeto “compreendeu a obtenção de informações sobre diferentes pessoas que tinham tido alguma relação” com esse investimento e com o procedimento de falência que afetou essa empresa. E acrescenta que o resultado dessas investigações foi refletido em uma série de relatórios.

Nesse ponto, especifica que entre as pessoas das quais se obteve informação estava o presidente do banco de investimento Ahorro Corporación, quem ofereceu a Moya a oportunidade de investir em Martinsa-Fadesa e de quem suspeitavam que poderia ter agido em cumplicidade com Fernando Martín para prejudicar o cliente do projeto.

O espionagem

O fiscal explica que nessa obtenção de informação, o comissário e seu sócio conseguiram “ter acesso aos seus tráfegos de chamadas, tanto entrantes quanto saídas, correspondentes aos dias 1 a 18 de novembro de 2011, conhecendo deste modo com quem tinha contato durante todos esses dias”.

Da mesma forma, relata que também conseguiram os tráfegos de chamadas entrantes e saídas de quem ocupava o cargo de diretor geral de Ahorro Corporación, correspondentes aos mesmos dias, e de quem interveio como advogado de Moya nos processos judiciais que promoveu em decorrência da falta de efetividade da opção de venda das ações e que, além disso, era parceiro de uma das pessoas que fazia parte do administrador judicial de Martinsa-Fadesa.

As transferências

O fiscal indica que por esses trabalhos Moya através da Persán SA (uma empresa de detergentes) pagou ao CENYT o montante total de 501.500 em várias transferências e que os pagamentos corresponderam a faturas emitidas pelo Grupo CENYT nas quais “com intenção de ocultar a natureza da relação comercial” se manipularam os conceitos dos serviços prestados.

A Procuradoria pediu o arquivamento da causa para o ex-senador socialista Francisco Rodríguez Martín e advertiu sobre a extinção da responsabilidade penal de Moya devido ao seu falecimento em 18 de janeiro de 2021.

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