Os analistas apontam os desafios na Nestlé de Pablo Isla e Philipp Navratil: a margem do café, EUA e China

Os analistas aumentaram o preço-alvo das ações da Nestlé, o gigante alimentício suíço, depois de na semana passada apresentarem os resultados correspondentes ao seu terceiro trimestre fiscal. Além de suas métricas, o anúncio mais impactante foi a previsão do grupo de eliminar 16.000 empregos em todo o mundo nos próximos dois anos como parte de sua política de contenção de custos. A medida foi aplaudida pelo mercado, que fez a empresa disparar quase 10% na bolsa em um único dia. Com esse impulso, o preço das ações valorizou mais de 12% desde o início do ano. No entanto, os relatórios financeiros mais recentes mostram que, além da contenção de despesas, o grupo liderado por Philipp Navratil e Pablo Isla enfrenta mais desafios: as dificuldades nos mercados norte-americano e chinês e sua luta particular para manter as margens, considerando o aumento de alguns materiais-chave em seu negócio, como café e cacau.

Isso tudo, num cenário em que as previsões do consenso de mercado indicam que, apesar de apertar o cinto, a empresa deve terminar o exercício de 2025 com uma queda nos números de negócios e lucro. No caso das vendas, estas poderiam retrair, de acordo com as previsões, 1,7%, chegando perto de 89.800 milhões de francos suíços, enquanto os lucros sofreriam uma queda de entre 5 e 6%, rondando os 10.255 milhões.

Nova liderança executiva

Nestlé vive um momento delicado. Não apenas anunciou um corte de pessoal sem precedentes. Além disso, a empresa optou por esse caminho para aumentar a contenção de despesas durante uma renovação completa da sua liderança. No último outubro, Pablo Isla, o ex-presidente da Inditex, assumiu o cargo de presidente da empresa, uma posição não executiva. No entanto, o grupo também mudou seu CEO, após a demissão do anterior, Laurent Freixe, ao ser revelado que ele havia violado o código ético da empresa ao estabelecer um relacionamento amoroso com uma subordinada.

Embora a Nestlé tenha fechado os primeiros nove meses do seu ano fiscal com uma queda nos negócios de 1,9%, é verdade que conseguiu um RIG (crescimento interno real, excluindo o crescimento inorgânico e o impacto da taxa de câmbio) positivo. Este fato é destacado por Barclays em seu relatório recente, emitido após a publicação dos resultados. No mesmo, apesar de aumentar o preço-alvo do grupo dos quase 84 francos suíços atuais para 90, lembra que os desafios ainda são muitos, além da contenção de gastos.

“Nestlé teve um desempenho inferior ao esperado durante cinco anos e esperamos que, com o terceiro CEO em menos de 19 meses, isso marque um marco. As sinais são promissoras, mas ainda aguardamos mais detalhes sobre como acelerarão seu RIG de maneira sustentável”, explicam de Barclays. “Acreditamos que a Nestlé precisa avançar mais e mais rapidamente em áreas onde tem direito de vencer. O café e a comida para pets são o núcleo do negócio principal da empresa, representando aproximadamente 50% de seus lucros”, adicionam.

As zonas quentes da Nestlé

Nestlé é uma marca global, com cerca de 277.000 funcionários em todo o mundo. Seu maior mercado é o americano (só nos Estados Unidos tem 54 fábricas), mas o que mais cresce é o europeu. De acordo com as contas correspondentes aos primeiros nove meses do ano de 2025, consultadas por Economia Digital Galiza, a Europa foi o único território onde as vendas líquidas aumentaram em relação ao mesmo período de 2024.

Na denominada zona Américas, registou vendas de 25.294 milhões de francos suíços, um 4,8% a menos, enquanto na zona da Ásia ficou em 15.263 milhões e uma contração de 2,5%. No caso da Europa, as vendas foram de 12.875 milhões, 2,6% mais.