A reinvenção do Room Mate sem o apoio de Sandra Ortega: o negócio espanhol ganha oito milhões após a falência

Enquanto a herdeira de Rosalía Mera vence nos tribunais reclamações do banco derivadas da falência da hoteleira, o grupo, agora nas mãos do fundo Angelo Gordon e com Kike Sarasola à frente da sua gestão, multiplicou por quatro seus ganhos na Espanha em 2024

Sandra Ortega, herdeira de Rosalía Mera e segunda maior fortuna de Espanha, e Kike Sarasola, o empresário que fundou Room Mate, atualmente percorrem caminhos bem diferentes, ambos relacionados, no entanto, com as consequências da falência da companhia hoteleira, que entrou em concordata em 2022 e foi adquirida pelo fundo americano Angelo Gordon. A primogênita de Amancio Ortega e segunda maior acionista da Inditex ainda luta nos tribunais – e por enquanto, vence – pelas reclamações do banco que ficou preso na falência da empresa. O empresário, por sua vez, já não é acionista, mas continua no dia a dia de uma empresa que no último ano multiplicou por quatro os lucros do seu negócio apenas na Espanha.

Rosp Corunna, a patrimonial de Ortega Mera, foi durante anos sócia e financiadora da Room Mate de Kike Sarasola. A sociedade corunhesa chegou a ter uma participação de 31% na empresa, que foi fortemente afetada pelo golpe que representou para o setor a pandemia. Estando já em situação deficitária, a firma hoteleira não pôde acessar os resgates fornecidos pela Sociedade Estatal de Participações Industriais (SEPI), que serviram de salva-vidas a muitas grandes companhias.

Saída do concurso

Asfixiada pelas dívidas, a empresa entrou em concordata em 2022. Apesar da situação de falência técnica em que se encontrava, o negócio saiu à tona uma vez que o fundo americano Angelo Gordon e Westmont Hospitality Group apresentaram uma oferta vinculativa pela unidade produtiva. Além disso, o administrador da concordata, PwC, declarou fortuita a queda em suspensão de pagamentos da empresa, pelo que tanto Sarasola como a anterior cúpula diretiva da empresa foram eximidos de responsabilidades.

Sarasola continuou ligado ao negócio da nova Room Mate e Sandra Ortega conseguiu abandonar um investimento que lhe saiu caro e pelo qual ainda hoje deve responder nos tribunais.

Buraco para Rosp Corunna

As últimas contas de Rosp Corunna, relativas ao exercício de 2024, evidenciam o buraco que representou para a empresária corunhesa o investimento na antiga Room Mate. O grupo investidor reconhece créditos com a antiga Room Mate que somariam mais de 89 milhões, entre aportes a curto e a longo prazo e prestações de serviços. Uma quantia que, em qualquer caso, figura já como completamente deteriorada.

Além disso, as dívidas que a antiga Room Mate contraiu com o banco acabaram se transformando em outra dor de cabeça para Ortega Mera, já que diferentes entidades lhe chegaram a reclamar até 150 milhões de euros. Reclamações essas que estão sendo julgadas nos tribunais, por enquanto, de maneira favorável para a empresária.

Banca March

A quantia está diretamente relacionada com os créditos que diferentes entidades bancárias concederam no passado à Room Mate supostamente apoiadas em comfort letters ou cartas de patrocínio com as quais Rosp respaldava a hoteleira perante o banco. Esse tipo de aval foi, precisamente, a origem dos desentendimentos entre Sandra Ortega e seu ex-assessor, José Leyte.

No passado dia 8 de outubro, o Tribunal de Primeira Instância de Madrid emitiu uma sentença que rejeitava uma reclamação da Banca March a Rosp Corunna de 36,2 milhões de euros por cartas de patrocínio entregues pela patrimonial corunhesa em favor de Room Mate em 2018 e 2020, assim como os juros de mora. O grupo de Ortega Mera argumentou que as cartas de patrocínio eram nulas e não poderiam ser reclamadas por não ter dado seu consentimento a seu ex-braço direito para a formulação das mesmas.

No veredicto, a juíza indica que “nos encontramos perante a mais absoluta falta de prova” de que a filha mais velha de Amancio Ortega estivesse consciente dessas cartas de patrocínio. Ao mesmo tempo, segundo a sentença consultada por este meio, também indica que a demandante, Banca March, não pôde evidenciar que recolhesse “o consentimento nem o conhecimento” da demandada na operação.

Trata-se da segunda reclamação por causa das comfort letter a Room Mate que Rosp Corunna salva no tribunal. No passado fevereiro, o tribunal de primeira instância número 46 de Madrid também rejeitou uma demanda nos mesmos termos do EBN Banco contra a patrimonial de Ortega Mera, à qual reclamava 1,5 milhões.

Room Mate, sede nos Países Baixos

E, como vai enquanto isso a nova Room Mate? A sede do grupo hoteleiro está nos Países Baixos, atrás da sociedade AGWH Holding BV, sendo sua principal sociedade na Espanha Room Mate Hospitality & Leisure, com uma folha de mais de 350 empregados e figurando Kike Sarasola como o presidente do seu conselho de administração desde janeiro de 2023.

Além de Espanha, a companhia está presente atualmente na Holanda, Itália, Reino Unido e Turquia, mas as contas de Room Mate Hospitality & Leisure abrangem diretamente apenas os hotéis na Espanha e as sedes centrais. Em particular, no país conta com 12 estabelecimentos localizados em Barcelona, Granada, Madrid, Málaga e San Sebastián, com 831 quartos. No entanto, dela dependem também sociedades que exploram ativos hoteleiros em Florença, Roma, Milão, Veneza, Istambul, Amsterdã, Roterdã, Londres e Valência, somando no total mais de 2.170 quartos.

Espanha, “um território seguro para o turista”

A sociedade registrou um lucro líquido de quase 8,6 milhões frente aos dois milhões de lucros do exercício de 2023. Desta quantia, 7,7 milhões foram destinados a dividendos para seu sócio único.

Em seu relatório de gestão, os administradores da companhia indicam que durante o último ano “a evolução da economia espanhola superou todas as expectativas” e a atividade turística superou as cifras pré-pandêmicas. “Constata-se um impacto notável na atividade turística e Espanha beneficiou-se dos conflitos no Oriente Médio ao preferirem clientes estrangeiros como americanos, australianos ou canadenses, que formam uma importante base do tipo de cliente de Room Mate, hospedar-se num território mais seguro como é o espanhol”, indicam.

De uma forma ou de outra, Kike Sarasola e Sandra Ortega, outrora sócios, seguem muito ligados à Room Mate.

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