O negócio florestal da Altri em Galiza avança apesar da incerteza em Palas: fatura 17 milhões em nove meses
A companhia lusa afirma que mantém o seu compromisso com o projeto de fibras têxteis na comunidade, enquanto as filiais que comprou do proprietário da Greenalia fecharam os primeiros nove meses do ano com lucros
José Soares, CEO da Altri / Altri
A papeleira lusa Altri insiste no seu projeto de produção celulósica e fibras têxteis em Palas de Rei. Até agora, ficou de fora dos Perte do Governo e, talvez o mais importante, sem conexão à rede elétrica segundo a proposta do Executivo para o planejamento elétrico com horizonte em 2030. No entanto, a companhia prossegue com a tramitação das licenças da fábrica e seu presidente, José Soares de Pina, assegura que continuam buscando financiamento. Assim o indicou o executivo na recente apresentação dos resultados do grupo correspondentes aos nove primeiros meses do seu exercício fiscal. Nesse tempo, a cotada portuguesa também avançou nas suas investimentos na comunidade, com a compra do antigo negócio florestal de Greenalia. Duas filiais, Greenalia Forest e Greenalia Logistic, cuja atividade se manteve à margem do incerto desenrolar do projeto Gama. De fato, segundo a documentação consultada por Economia Digital Galícia, chegaram ao terceiro trimestre do ano com um volume de negócios de quase 17 milhões de euros.
Assim fica refletido no último relatório trimestral da Altri, recentemente publicado. No mesmo indica-se que uma das aquisições que a companhia realizou este exercício foi a compra, em maio passado, de 100% das sociedades Greenalia Forest e Greenalia Logistic. Duas sociedades que conformavam a divisão logística e florestal do grupo galego de renováveis e que desde 2023 estavam nas mãos de Smarttia, holding com a qual o empresário Manuel García controla a maioria acionária da companhia corunhesa e com a qual também retém 25% de Greenfiber, a promotora do projeto de Palas de Rei.
Estrutura na montanha galega
A compra dessas duas sociedades foi interpretada como uma tentativa dos portugueses de assegurar uma estrutura empresarial com a qual operar a montanha galega, com uma produção que tivesse como destino o complexo de fibras têxteis. A atualmente denominada Altri Florestal dedica-se a gerir compras a proprietários florestais bem como à venda de produto a madeireiros e outras empresas, entre elas, a própria planta de biomassa de Greenalia em Curtis. A agora renomeada como Altri Florestal Logistics foca-se no transporte do produto.
O negócio adquirido poderia ser chave para o abastecimento da planta de fibras têxteis, uma vez que foi projetado com um consumo anual de 1,2 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto e sendo a intenção do grupo recorrer a produção certificada e de proximidade. No entanto, fontes empresariais dão como certo que o novo negócio florestal de Altri na Galiza continuará interessando ao grupo mesmo no caso de que a planta de fibras têxteis fique no limbo.
No relatório da Altri relativo aos nove primeiros meses do seu ano fiscal indica que a aquisição de ativos da Smarttia “representou um passo importante estratégico para consolidar a presença do grupo na Galiza” e expõe que “continuará colaborando com fornecedores locais que adotem as melhores práticas de gestão florestal, promovendo a criação de emprego e impulsionando a produtividade florestal atual na Galiza”. “Esta aquisição fortalecerá as fontes atuais de fornecimento de madeira do grupo para o processo de produção de fibras celulósicas”, aponta. Ou seja, o negócio seguirá interessando a Altri, tanto para abastecer sua hipotética fábrica lucense quanto para o negócio português.
O negócio continua
A verdade é que as duas sociedades continuam com seu negócio apesar da mudança de mãos. Na documentação consultada por Economia Digital Galícia indica-se que nos nove primeiros meses do ano acumularam um volume de negócios de 16,95 milhões de euros, sendo além disso rentáveis, ao assinar um “resultado líquido no período” de cerca de 205.000 euros. Desde que Altri assumiu o comando das duas sociedades, geraram um volume de negócios de cerca de 4 milhões de euros.
Como já publicou este meio, Altri adquiriu estas duas sociedades em meados de maio passado, investindo na compra cerca de 16 milhões de euros. Dessa quantia, 7,5 milhões correspondiam à compra das ações das companhias enquanto que 6,6 milhões são contabilizados como dívida da mesma assumida pela papeleira.
Outros 35 milhões em um negócio de fibra têxtil sustentável
A galega não é a única aquisição que o grupo realizou este exercício. Em julho também se fez com a maioria acionária de AeoniQ, uma firma suíça impulsionada pelo grupo HeiQ, especializado no desenvolvimento de fibra têxtil sustentável, dentro da sua aposta por esta linha de negócio. Neste caso, o investimento nasceu para reforçar seu negócio em Portugal destinado a esta área de negócio. “O investimento de Altri permitirá o desenvolvimento da primeira unidade industrial de AeoniQ nas instalações de Caima, em Portugal, e reforça a visão estratégica do grupo de diversificar-se para aplicações celulósicas de alto valor añadido”, expõe a companhia no documento consultado por este meio.
O investimento pelos 58,7% da companhia foi significativamente maior que no caso da aquisição galega, já que superou os 35 milhões de euros. Segundo indica, primeiro aportou 10,5 milhões para se fazer com uma participação de 30% do capital nas mãos de HeiQ Materials AG e depois acudiu a uma ampliação de capital, na qual aportou 25 milhões fazendo-se com a maioria da sociedade.