Endesa leva a Fazenda à Audiência Nacional pelas deduções fiscais do desmantelamento das suas centrais
Endesa Generación, proprietária da central térmica de As Pontes, reserva 18 milhões de euros pelo contencioso que tem com o fisco sobre o Imposto sobre Sociedades pela diferença de critério sobre a dedutibilidade de despesas por desmantelamento das suas centrais

O desmantelamento do parque de produção de Endesa não só tem datas no calendário de fechos previstos. Também nos tribunais. E, concretamente, na Audiência Nacional. Assim se depreende da memória que acompanha as contas correspondentes a 2024 de Endesa Generação, a filial que é titular da central termoelétrica de As Pontes, atualmente em processo de desmantelamento após seu encerramento e clausura total, em 2023.
A disparidade de critério frente à Fazenda nos gastos e deduções aplicados pela companhia, em concreto no Imposto de Sociedades, nos processos de desmantelamento de suas centrais, derivou em seu dia em acordos de liquidação que a equipe jurídica de Endesa decidiu recorrer, primeiro em via administrativa, para seguir depois na contenciosa na Audiência Nacional.
O processo
Já em 2022 a companhia começou a receber as resoluções de liquidações da Fazenda relativas ao Imposto sobre Sociedades, que, tal como em outros casos, também relacionados com o IVA, por exemplo, foram recorridas perante a Audiência Nacional. No caso de Sociedades, “os conceitos objeto de discussão têm sua origem, principalmente, na diferença de critério sobre a dedutibilidade de gastos por desmantelamento de centrais, e de determinadas perdas derivadas da transmissão de participações do período inspecionado”, asseguram os administradores de Endesa Generação na memória.
A contingência associada ao processo, detalham, é de 18 milhões de euros, “e dispõe-se de um aval que garante a suspensão da dívida”, esclarecem.
Entre outras unidades geradoras, Endesa completou o cesse definitivo de atividade da central termoelétrica de As Pontes em 2023, e no ano passado concluiu-se o processo de “phase out” (redução progressiva), que incluiu a posta em segurança das instalações e a “desenergização” gradual dos equipamentos. “Este processo foi levado a cabo de maneira controlada, seguindo padrões técnicos que garantem a segurança ambiental e operativa”, dizem os gestores de Endesa Generação.
Posteriormente, explicam, adjudicou-se o contrato para o desmantelamento da central, “com um enfoque prioritário na contratação de emprego local, fomentando o desenvolvimento económico da região”, dizem. O processo de desmantelamento tem uma duração prevista de 4 anos.
Outros casos
As deduções do Imposto de Sociedades que fazem referência ao desmantelamento das centrais de Endesa têm uma trazabilidade similar aos casos de outros impostos para a companhia, caso do IVA.
Já em 2018 foram notificados os acordos de liquidação definitivos do Imposto sobre Sociedades e do Imposto sobre o Valor Acrescentado dos grupos de consolidação fiscal aos quais pertence Endesa Generação, S.A.U. relativos a um processo de inspeção dos exercícios 2011 a 2014, os quais foram recorridos perante o Tribunal Econômico Administrativo Central. Em 2022 a companhia recebeu resolução estimatória parcial para o IVA, que, no entanto, decidiu continuar recorrendo perante a Audiência Nacional.
Mais litígios
Nem de longe esses são os únicos nem os mais complicados atritos com a Fazenda de Endesa. Em relação ao Imposto sobre o Combustível Nuclear Gasto que regula a Lei de medidas fiscais para a Sustentabilidade Energética, existem processos abertos nos quais Endesa Generação solicitou a modificação da base imponível do imposto. Em 2024 a inspeção de tributos acordou a procedência da devolução de 5 milhões de euros. Endesa recebeu acordos de liquidação que negam a totalidade das devoluções recebidas, por um total de 141 milhões de euros.