Amancio Ortega e os seus ‘caladeros’ habituais para contratar diretores: Arthur Andersen, Deloitte, Fazenda ou a banca
Roberto Cibeira, o conselheiro delegado de Pontegadea, passou oito anos pela consultoria Arthur Andersen, berço também de muitos executivos históricos da Inditex

Faz agora 20 anos que Pablo Isla, hoje eminente presidente da Nestlé, desembarcou na Inditex. Chegou vindo da Altadis para assumir diretamente o cargo de conselheiro delegado (só chegaria a presidente em 2011). Também foi fulgurante a ascensão do atual diretor executivo da têxtil, Óscar García Maceiras, que entrou em Arteixo vindo do Banco Santander em 2021 como secretário-geral e foi promovido apenas dez meses depois. Contudo, uma revisão dos principais executivos da Pontegadea e da própria multinacional têxtil mostra que, ao longo dos anos, Amancio Ortega tem revelado onde estão os seus grandes caladeros de pesca na hora de recrutar. De Arthur Andersen a Deloitte, passando pela Fazenda, a Advocacia do Estado, a banca e a própria Universidade, revisamos os currículos de vários dos pata negra da primeira fortuna de Espanha e número 12 do mundo.
A atual cúpula diretiva da Pontegadea após a saída do histórico braço direito de Amancio Ortega, José Arnau, é formada, maioritariamente, por executivos com longa trajetória na empresa e com pontos comuns em seus currículos.
A cúpula da Pontegadea e as grandes auditoras
Conselheiro delegado do holding investidor do fundador da Zara, Roberto Cibeira, que também entrou este verão no conselho de administração da Inditex com a saída de Arnau por jubilação, chegou à family office em 2003, quando o património de Ortega começava a disparar devido à entrada na bolsa da têxtil (2001). O executivo de O Carballiño chegou da consultora Arthur Andersen, onde passou oito anos.
Como informado esta semana por Economía Digital Galiza, as maiores atribuições de Cibeira após a saída de Arnau obrigaram a uma remodelagem da cúpula diretiva. Na Pontegadea optaram por trazer de Miami a Patricia Alonso, uma executiva da casa para exercer como responsável global de investimentos. Até agora desempenha o cargo de managing director da companhia nos Estados Unidos, Canadá e México.
Com 21 anos nas costas na Pontegadea, entrou quase ao mesmo tempo que Cibeira do grupo, no seu caso, vindo de outra grande auditora, Deloitte, embora antes também tivesse passado pela Arthur Andersen (muitos executivos, conhecidos como arturitos no jargão financeiro acabaram na Deloitte após a absorção da auditora após o escândalo de Enron).
Caixa Galiza
A seguir, no novo organograma, estão Marcos Fernández y Andrés Moreno, diretores de investimentos imobiliários e não imobiliários. O primeiro está há quinze anos na Pontegadea. Veio para a companhia moldada por José Arnau vindo da Caixa Galiza, a caixa do norte liderada por José Luis Méndez, que após a fusão com Caixanova seria presidida precisamente por José María Castellano, o homem que levou a Inditex à bolsa. Antes do seu passo pela banca, também passou por Deloitte e por Arthur Andersen.
Um currículo similar é o do seu colega Andrés Moreno, que chegou à Pontegadea em 2012 depois de quase sete anos na Caixa Galiza, de 2005 a 2012. E antes mesmo do seu passo pela banca, outros sete anos na consultora Deloitte.
Outra executiva destacada é Olga Torres, diretora financeira da patrimonial há mais de quinze anos. Antes disso, passou brevemente pela T-Solar, a companhia de renováveis da malograda Isolux Corsán, embora tenha trabalhado mais de 13 anos por outra das big four, PwC.
A exceção à regra é marcada pela recentemente contratada Irene Lauzurica, que será a diretora jurídica do grupo investidor. No seu caso, acaba de aceder à Pontegadea e ao topo da mesma vinda da Telxius, a empresa de cabo submarino, uma participada precisamente de Ortega Gaona junto com a Telefônica.
Mais além da Pontegadea, pela Inditex também passaram ao longo dos anos muitos canteranos da Arthur Andersen. Desde o histórico Borja de la Cierva, um dos homens fortes na próspera etapa de Castellano, até Carlos Crespo, CEO com Pablo Isla.
A área fiscal da Inditex
Entre as últimas contratações realizadas pela cotada de Arteixo destaca, este verão, a de Pablo Meijide como novo responsável da área de Fiscal. Até o mês de junho era delegado em Vigo da Agência Estatal de Administração Tributária.
A nova incorporação reportará diretamente a Ignacio Fernández, desde este ano novo número dois executivo do grupo após Maceiras, com controle sobre áreas chave do grupo como são Finanças, Sustentabilidade, Logística, Transporte e Infraestruturas. Dois especialistas, afinal, em sistemas fiscais.
Fernández, de 62 anos, é membro do Corpo Superior de Inspectores de Fazenda e professor de Fazenda Pública e Sistemas Fiscais na Universidade da Corunha. Chegou à Inditex há 24 anos e fê-lo de mãos dadas, precisamente com José Arnau, outro inspetor de Fazenda que exerceu como profissional da administração pública até que em 1993 Amancio Ortega o convenceu a inscrever-se na assessoria fiscal da Inditex.
Advogados do Estado
No presente e passado da Inditex, como em muitos outros gigantes, também há membros da Advocacia do Estado. São os casos, por exemplo, de Pablo Isla e o próprio Óscar García Maceiras, mas também de uma recente incorporação, a de Isabela Pérez Nivela, nova diretora de Assessoria Jurídica que, embora com vaga, vinha de desempenhar um cargo similar na Coca-Cola Europacific Partners.
Como advogado do Estado também exerceu outro ilustre ex da Inditex: Antonio Abril Abadín, um dos históricos de Amancio Ortega, atual presidente do Conselho Social da Universidade da Corunha e que exerceu este cargo na década de oitenta, antes de ingressar na têxtil em 89.
Um especialista em contratações
Os especialistas na figura de Amancio Ortega sempre defendem que um dos segredos do veterano empresário, desde os inícios do gigante têxtil, esteve na sua hábil política para as contratações. Ao recentemente falecido José María Castellano tentou recrutá-lo, contam as crónicas, já em 1974, antes mesmo do nascimento da Zara, após contatá-lo para desenvolver o sistema informático do seu negócio emergente.
“Ortega pediu-me que ficasse com ele, mas eu estava dando aulas de Economia na Universidade e preparando minha cátedra e disse que não (…). Continuei aconselhando-os não só na área de informática, mas em tudo o que me consultavam da organização e mil questões que iam surgindo naqueles anos, até que finalmente me incorporei em 1984”, apontava Castellano, cérebro da entrada na bolsa da Inditex, numa entrevista concedida à jornalista Covadonga O´Shea anos atrás.